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terça-feira, 29 de março de 2011

A Diversão Não Pode Acabar

28 mar, 2011 5 comentários por kalderash

Por Kalderash e Allana
A máxima clássica que gira em torno do RPG sugere que este é um jogo onde os participantes interpretam o papel de personagens previamente preparados, de maneira espontânea, enquanto um ou mais participantes agem como “narradores” de uma estória que será desenvolvida pelo conjunto. Como todo hobby, seu objetivo é o entretenimento, e para tal, o RPG tem como suporte a diversão. Assim, se você está em dúvida se está jogando RPG da forma correta, basta se fazer uma pergunta: você está se divertindo? E em maior nível, você está proporcionando diversão?
Com jogos de linhas tidas como sérias, os fatores de sobriedade do cenário tornam as coisas muito preto no branco, esquecendo que existem momentos onde a tensão cessa, e o cotidiano flui de tal maneira que abre espaço para a diversão como comédia mesmo, e é isso que não podemos deixar morrer, a graça da piada.
Por que as lendas lendárias são famosas? Simples, elas nos fazem rir. Muitas pessoas preferem figuras icônicas como Presto em caverna do Dragão, Woodchuck em Record of Lodoss War e mesmo o próprio Coringa, a besta sagrada que formula o Cavaleiro das Trevas, e é sobre esse último que vamos basear boa parte deste artigo.
Quando estive no “RPG para a Nova Consciência” na cidade de Campina Grande (evento realizado pela Confraria RPG), eu e Allana discutimos um pouco sobre esse tema, e eis que surge a figura do Batman de Frank Miller (citado pela própria Allana), um “anti-herói” com sentimentos de vingança e justiça fora do senso comum, que vive em um mundo de paranoia e medo-psicótico, sem demonstrar qualquer emoção. Ele luta contra um “vilão” megalomaníaco, capaz de rivalizar suas próprias perturbações mentais, e, no entanto, o Coringa ainda consegue fazer graça, armar estratégias no mínimo sádicas e nos fazer rir em uma história tão sombria. Por isso, e por muitos outros aspectos, acho o vilão o grande protagonista dessa história (certo, podem me bater agora).
Já levando para o âmbito do RPG, esse cavaleiro das trevas seria um péssimo personagem para qualquer /aventura tal como é apresentado. Imagine ter um companheiro de aventuras que não confia na equipe, só quer saber de suas vinganças pessoais, não presta contas com a lei, é autodestrutivo e, ainda por cima, tem seu próprio e único senso de conduta e moral que difere da sociedade. Seria um companheiro indubitavelmente tenso.

Supernatural, terror + palhaçada
Supernatural, terror + palhaçada

Mesmo se tratando de crônicas, onde “o cinza” dá o tom da estória, há momentos em que nossos personagens param para relaxar, cada um à sua maneira, e existe o espaço para humor simplista, tal como é. Lembram-se das lendas lendárias, o que seria das seções mais tenebrosas sem tais pérolas? Numa aventura de Rastro de Cthullu, o que impediria um investigador de zombar de outro personagem (proporcionando risos em off) ou mesmo de contar uma piada, dirigindo um carro a caminho de uma cena por busca de evidências? Esses toques humanistas dão aquela pitada de diversão sem perder o estilo proposto pelo cenário, detalham o seu personagem e deixam o jogo mais fluido.
Para exemplificar o ponto em que queremos chegar, pensamos em filmes como Janela Indiscreta ou Os Pássaros, ambos de Alfred Hitchcock. São histórias de suspense, sempre com narradas com uma tensão crescente, mas que permitem o desenvolvimento dos personagens em situações mais cotidianas. Há momentos de alívio na construção da história, que permitem ao telespectador respirar e sorrir um pouco.
Uma situação interessante aconteceu em uma mesa de Eberron, em que todos os personagens acordaram presos dentro de um prédio repleto de mortos-vivos. Os ânimos se exaltaram, discussões surgiram e então alguém fala: “Calma, estamos todos no mesmo barco”. Daí o bugbear que não entende metáforas solta: “Eu não sinto nenhum balançar de barco. Onde fica o convés?”.
Já vi algumas mesas iniciarem a aventura de maneira tão opressiva que simplesmente os ficavam exaustos depois de interpretar suas situações durante a sessão de jogo. Uma sessão onde não se vê uma risada, um tapa no ombro ou um gritando “para de rir, cambada e presta atenção” só pode estar indo de encontro à diversão, que é a tônica de toda boa partida de RPG.
Se torna necessário, porém, construir um equilíbrio. Arruinar o reencontro de dois amantes, ou aquele momento de vingança contra o grande vilão com uma piada ruim pode até ser divertido para você, mas não para a mesa. Saber dosar é a chave para uma partida memorável.
RPG

Sobre o autor

Jeferson Antunes é formado em História, membro da FORN-SED Brasil, curte um bom metal e joga RPG desde a primeira edição de Vampiro. Realiza encontros de RPG estando à frente da Equipe Cariri RPG www.caririrpg.com.br ... Twitter @k4lder4sh, seu sistema favorito L5R ... cerveja favorita heineken e Asatruar na alma.

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